A ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985 coincidiu com a fase inicial da carreira de Chico Buarque (1944-), um dos maiores compositores da historia da musica brasileira. Foi em 1966 que o jovem estudante de arquitetura lançou “A banda”, seu primeiro grande sucesso. Nesse mesmo ano, “Tamandare´”, outra composição sua, foi proibida pelo Servic¸o de Censura, por ofender o almirante Tamandare´, o patrono da Marinha. Era o primeiro encontro de Chico com a Censura – o primeiro de muitos.
No ano seguinte, seria a vez de Roda viva (peça de sua autoria dirigida por José Celso Martinez Correa) ser alvo dos censores. Em dezembro de 1968 era baixado o Ato Institucional n°5, que suspendia todas as garantias constitucionais e dava inicio aos “anos de chumbo”. A partir dai, os artistas brasileiros não teriam mais paz. Para Chico, veio o autoexilio na Italia, a atividade de correspondente informal do contracultural O Pasquim e a criação de musicas antologicas, sob o tação da Censura.
Foram dezenas de composições; algumas proibidas de imediato, e outras – como “Apesar de voce” (1970) – que passaram inicialmente despercebidas pelo radar dos censores (não muito versados em sutilezas). Chico, articulado e bem-humorado, defendia-se concedendo inumeras entrevistas. Resultado: tornou-se a face mais expressiva da resistencia democratica. Algumas de suas criações, como “Calice” (cale-se?), com Gilberto Gil, se tornaram hinos de oposição ao regime militar. Talvez nenhum outro artista tenha sido tão sistematicamente perseguido como Chico. Isso durou ate´ o album Francisco, lançado em 1987 – quando se preparava a Constituição Cidadã, que, promulgada em 1988, passou a garantir a liberdade de criação artistica.
Este livro traz um relato da relação conflituosa entre um dos artistas mais geniais ja produzido pelo Brasil e a Censura oficial do regime militar. Ao mesmo tempo, trata-se de um magistral resgate da perseguição e da repressão artistica no mais recente periodo em que todas as liberdades foram suspensas em nosso país. Um deleite para fãs e não fas; para os que viveram durante a repressão militar e para as novas gerações que pouco ou nada sabem sobre o que é viver e criar sob o autoritarismo.